Stress

Paulo Sérgio Silva

O stress deve ser encarado fundamentalmente em suas implicações psicossomáticas. As relações entre a mente e o corpo mantêm uma reciprocidade. O stress manifesta-se pela luta pela autopreservação ( homeostase ) de uma parte ou de várias partes de um conjunto vivo. Na concepção de Sayle, isso é aplicado às células individuais do ser humano, do ser humano na sociedade e às espécies individuais no conjunto do mundo animado. O que diferencia essa luta pela autopreservação das células individuais, dos animais inferiores que vivem isolados, dos que mantêm vida social como as abelhas, ou os mamíferos superiores como os seres humanos? No livro, Stress Tensão da Vida de Sayle, no capítulo V, intitulado Implicações e Aplicações, aparece um autor preocupado em oferecer, a partir de sua descoberta, soluções parra certos males que afligem os seres humanos. Suas maiores contribuições referem-se ao avanço no conhecimento do sistema endocrinológico. É, junto com os trabalhos de Cannon, o início das primeiras explicações para as doenças psicossomáticas do ponto de vista fisiológico. Nesse capítulo, o autor envereda-se para uma consideração filosófica e psicológica sobre o stress e as possibilidades profiláticas que o estilo de vida saudável proporciona. Seu texto passa de descritivo para prescritivo. Recorre tanto aos ensinamentos antigos quanto aos cuidados com a saúde mental e física no cotidiano.

Muito trabalho sem diversão, evidentemente, não faz bem a pessoa alguma de qualquer idade, mas perguntamos: o que é trabalho e o que é diversão? Pescar é uma diversão para o diretor de empresas, mas é um duro trabalho para o pescador profissional. O primeiro pesca para divertir-se, mas o segundo terá de fazer qualquer outra coisa, ou simplesmente descansar, para relaxar-se. ( SAYLE, 1965:298 )

Essa dicotomia trabalho e diversão está presente em diversos autores e nas indicações de diversos profissionais da área da saúde, encontramos a recomendação para o lazer para acalmar os males do stress do trabalho. A grande questão que estamos formulando nesta pesquisa é entender que é possível obter prazer, bem-estar e felicidade no trabalho e não buscar prazer somente na diversão, no lazer. Quando estamos em situação de lazer, não temos as pressões do trabalho e por isso “desligamos” nossos mecanismos de stress e relaxamos nossas tensões cotidianas. O problema não está na tensão, na pressão do trabalho, mas sim em como essa tensão provoca sentido de realização, de satisfação, de autonomia e crescimento. Quando estamos nos divertindo, temos diversas tensões, cansaços, desgastes, mas o sentido desse desgaste é a realização de um prazer ( nosso self é envolvido pelo gozo da atividade lúdica ). Quando estamos jogando futebol, dançando, viajando, sofremos um desgaste, uma tensão, mas essa tensão provoca prazer e não provoca stress. O problema é nosso trabalho que envolve tensões, insatisfações e, portanto stress e não possibilita o envolvimento do indivíduo nas suas capacidades de realização pessoal e possibilidades de crescimento pessoal e de prazer. O sentido da organização do trabalho deve ser orientado para que as pessoas sejam envolvidas na produção de significados existenciais para a satisfação e bem-estar.

Não será a auto-expressão o denominador comum para os objetivos últimos do homem? Estaremos sempre à espera da recompensa por necessitarmos de um índice cumulativo, que nos mostre até que ponto realizamos a auto-expressão? Se assim for, isso explicaria porque as satisfações puramente sensuais – o goso de qualquer dos prazeres físicos – jamais foi um objetivo satisfatório, a longo prazo, para o homem. Não importa quão intensa possa ser a felicidade que proporcionam, os prazeres físicos são efêmeros, eles não podem ser acumulados, de forma alguma, como uma espécie de riqueza. Não podem proporcionar-nos o sentimento de uma missão bem realizada, da posse de algo que nos garanta segurança.

( SAYLE, 1965:315 )